quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mobilização sem preconceitos contra a insegurança alimentar


Edmundo Klotz

O Programa Alimentar Mundial da Organização das Nações Unidas (WFP/ONU), numa excelente iniciativa, acaba de lançar site educativo na Web, dirigido a estudantes e professores. O conteúdo, muito bem elaborado, reúne informações e estatísticas sobre a segurança alimentar e a fome em todo o mundo, contém textos sobre dietas saudáveis e hábitos alimentares, propõe atividades em sala de aula e disponibiliza material interativo, como jogos e histórias sobre o tema.
O WFP, que somente este ano está oferecendo assistência alimentar a 105 milhões de pessoas, em 74 países, presta relevantes serviços à comunidade internacional. É o principal instrumento de socorro, num imenso esforço de logística e trabalho profissional e voluntário, para evitar que refugiados e vítimas de guerras e desastres naturais fiquem sem alimentos. Do mesmo modo, a organização está permanentemente mobilizada no enfrentamento do flagelo da fome, que, segundo seus dados, já atinge 1,11 bilhão de pessoas em todo o mundo e mata 10 crianças a cada minuto.
Assim, é muito relevante o programa educativo iniciado no espaço democrático da Internet por esse reconhecido programa das Nações Unidas. Sim, pois o problema da insegurança alimentar não será resolvido apenas pelo necessário e urgente gesto de dar de comer a quem tem fome. É preciso educar as presentes e próximas gerações para hábitos alimentares e vida saudáveis, pois números da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que o excesso de peso afeta mais de um bilhão de habitantes. E, como se sabe, a obesidade e suas conseqüências (diabetes, hipertensão, problemas coronarianos etc) podem ser tão letais quanto a inanição.
Como se observa, a luta contra a segurança alimentar deve ser travada em duas fronteiras principais: a da inclusão social, possibilitando que as pessoas hoje abaixo da linha da pobreza possam tornar-se consumidoras e cidadãs na acepção plena deste termo; e a da educação. Assim, trata-se de um desafio da humanidade no qual não cabem preconceitos, dogmas anacrônicos, bandeiras ideológicas panfletárias e demagogia.
É preciso, por exemplo, quebrar o paradigma de ataques aos alimentos industrializados, seu marketing, estratégias de distribuição e vendas, hoje responsáveis, no Brasil, por 85% do abastecimento, segundo estatísticas do IBGE. Os causadores da obesidade não são eles, mas sim a ausência de educação alimentar e hábitos de vida saudáveis. Os alimentos industrializados, processados com base em estudos, pesquisas e criterioso trabalho de nutricionistas, chegam ao consumidor final limpos, esterilizados e com as propriedades nutritivas intactas. A produção em escala, preço acessível, qualidade, capacidade de distribuição sem perecer e equilíbrio de nutrientes o tornam elemento indispensável ao enfrentamento estratégico da insegurança alimentar.
Quem sabe o novo site das Nações Unidas inspire autoridades, ambientalistas, acadêmicos e instituições da sociedade civil, no Brasil e no mundo, a participarem de uma ação abrangente, séria e consistente para vencer o grave desafio. Uma mobilização sem preconceitos e voltada à busca de soluções efetivas. Não podemos nos omitir na missão de educar, que, no caso dos alimentos, não significa restringir, mas sim habilitar a criança e o jovem para uma consciência crítica com relação a sua saúde.
É possível comer tudo, mas é fundamental balancear os alimentos, dosar as quantidades e manter atividade física regular. O alimento, industrializado ou in natura, é item estratégico para a saúde pública, e a educação é o meio mais eficiente para reduzir os fatores de risco das populações e incentivar a busca por uma vida mais saudável. Este, aliás, é o escopo do Programa Educacional "Prazer de Estar Bem" (PEB), concebido pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) e realizado com sucesso pelo Sesi-SP, do Sistema Fiesp. A exemplo do novo site das Nações Unidas, o projeto realiza-se como resposta à pertinente preocupação mundial com a fome e a obesidade e à necessidade de combatê-las de modo eficaz.

*Edmundo Klotz é presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA)

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