sábado, 27 de fevereiro de 2010

A escolha da profissão


Tom Coelho*

Uma análise do Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita pelo Observatório Universitário, indicou a correlação entre a profissão exercida e o curso superior realizado pelos profissionais. Enquanto 70% dos dentistas, 75% dos médicos e 84% dos enfermeiros trabalham na mesma área em que se formaram, apenas 10% dos economistas e biólogos e 1% dos geógrafos segue pelo mesmo caminho.

Exame atento de outras profissões ainda nos indicará que apenas um em cada quatro publicitários, um em cada três engenheiros e um em cada dois administradores faz carreira a partir do título que escolheu e perseguiu.

É evidente que faltam vagas no mercado de trabalho. O emprego formal acabou. Nas décadas de 1960 e 1970 o paradigma apontava como colocação dos sonhos um cargo no Banco do Brasil, na Petrobras ou em outra empresa pública. Nos anos de 1980 experimentamos o boom das multinacionais e empresas de consultoria e auditoria que recrutavam os universitários diretamente nos bancos escolares. Já na década de 1990 o domínio de um segundo idioma, da microinformática e a posse de um MBA eram garantia plena de uma posição de destaque. Contudo, nada disso se aplica hoje.

As grandes empresas têm diminuído o número de vagas disponíveis e são as pequenas companhias as provedoras do mercado de trabalho atual. Ainda assim, a oferta de trabalho é infinitamente inferior à demanda – e, paradoxalmente, muitas posições deixam de ser preenchidas devido à baixa qualificação dos candidatos.

Assim como todos os produtos e serviços concorrem pela preferência do consumidor, os profissionais também disputam as mesmas oportunidades. Engenheiros que gerenciam empresas, administradores que coordenam departamentos jurídicos, advogados que fazem estudos de viabilidade, economistas que se tornam gourmets. Uma autêntica dança das cadeiras que leva à insegurança os jovens em fase pré-vestibular.

Há quem defenda a tese de que adolescentes são muito imaturos para optar por uma determinada carreira. Isso me remete a reis e monarcas que com idade igual ou inferior ocupavam o trono de suas nações à frente de grandes responsabilidades, diante de uma expectativa de vida da ordem de apenas 30 anos...

O que falta aos nossos jovens é preparo. Um aparelhamento que deveria ser ministrado desde o ensino fundamental por meio de disciplinas e experiências alinhadas com a realidade, promovendo um aprendizado prazeroso e útil, despertando talentos e desenvolvendo competências. Um ensino capaz de inspirar e despertar vocações. Ensino possível, porém distante, graças à falta de infraestrutura das instituições, programas curriculares anacrônicos e, em especial, desqualificação dos professores.

Em vez disso, assistimos a estudantes com 17 anos de idade, 11 deles ou mais na escola, que às vésperas de ingressar no ensino superior sequer conseguem escolher entre psicologia e comunicação social, entre arquitetura e educação física, entre veterinária e direito.

A escola e a família devem propiciar ao aluno caminhos para o autoconhecimento e descoberta da própria personalidade e identidade. Fornecer informações qualificadas e estimular a reflexão, exercendo o mínimo de influência possível. Muitos são os que direcionam suas carreiras para atender às expectativas dos pais, aos apelos da mídia e da moda, à busca do status e do sucesso financeiro, em detrimento da autorrealização pessoal e profissional. E acabam por investir tempo e grandes somas de dinheiro numa formação que não trará retorno para si ou para a sociedade.

Orientação vocacional não se resume aos testes de aptidão e questionários. Envolve conhecer as diversas profissões na teoria e na prática. Permitir aos estudantes visitarem ambientes de trabalho e ouvirem relatos de profissionais sobre os objetivos, riscos, desafios e recompensas das diversas carreiras. Tomar contato com acertos e erros, pessoas bem sucedidas e que fracassaram. Provocar o interesse e, depois, a paixão por um ofício.

Precisamos voltar a perguntar aos nossos filhos: “O que você vai ser quando crescer?” A magia desta indagação é que dentro dela residem os sonhos e a capacidade de vislumbrar o futuro. Aliás, talvez também devamos colocar esta questão para nós mesmos, pais e educadores.

* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados por mais de 400 veículos da mídia em 15 países. É autor de “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”, pela Editora Saraiva, e coautor de outros quatro livros. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br.

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