Marcos Morita
Trabalhar fora resume-se a uma perversa equação: tempo pessoal = longas horas passadas no escritório + trânsito caótico das grandes metrópoles. O resultado traz um saldo preocupante. Somente três a quatro horas diárias, nas quais precisamos ainda: cuidar de nossa família, amigos, atualização profissional, compras de emergência, saúde, alimentação, últimos e-mails do dia e ufa, já ia me esquecendo, de nós mesmos.
Em minha carreira como executivo pude conviver com os mais variados tipos de profissionais os quais creio, conseguiria categorizá-los em quatro grandes grupos. Vale salientar que uma pessoa poderá possuir uma combinação de uma ou mais características, porém sempre haverá uma que se sobressairá perante as demais. Identificar-se é o primeiro passo antes de encontrar a empresa perfeita para se trabalhar.
Empreendedor: personalidade forte e centralizadora atua com base na intuição e experiência acumulada. Sente-se motivado com novos projetos, investindo energia para que possam ser concluídos. Não obstante, desafiam e questionam as regras e os procedimentos, caso sinta que possam atrapalhar a consecução de seus objetivos.
Carreirista: ambicioso, analisa suas ações com base nas repercussões que possam ter em sua carreira. Gosta do jogo de poder e política existente nas empresas. Em geral articula-se muito bem entre as pessoas e departamentos. Estratégico, visualiza seu progresso com base em cargos e aumento de poder, estipulando metas e objetivos para seu cumprimento.
Autônomo: trabalha muito bem sozinho, solicitando pouca orientação sobre como fazer as atividades. Tem por hábito entregá-las dentro do prazo solicitado, seguindo um padrão de qualidade. Perfeccionista, gosta de fazer as coisas do seu modo, não aceitando muito bem as críticas. Pode se sentir desconfortável quando exposto ao grupo.
Processual: metódico e organizado, prefere seguir regras, convenções e procedimentos na realização de suas tarefas. Costuma ser um especialista competente em sua área de atuação, fruto de sua dedicação e estudo sobre o tema. Sente-se pouco a vontade em ambientes incertos ou em constante modificação.
Creio que tenha conseguido se encaixar em um dos grupos. Chegou então a hora de encontrar a empresa mais adequada ao seu perfil, o que aumentará suas chances de sobrevivência e sucesso no mundo corporativo. Para ajudá-lo, utilizarei a teoria do consultor de negócios Ichak Adizes, o qual desenvolveu um interessante estudo sobre o ciclo de vida das organizações, classificando-as em seis principais grupos:
Desbravamento: uma idéia, um plano de negócios e um empreendedor. Sobram vontade e aventura, nesta fase caracterizada pelo alto risco de morte prematura. Vale salientar que Steve Jobs, Bill Gates, Mike Zuckeberg e seus sócios hoje milionários, começaram seus negócios na garagem.
Faz-faz: com as primeiras vendas, chegam os primeiros funcionários. Sem estrutura organizacional, cargos, salários, políticas e procedimentos definidos, é necessária muita improvisação e jogo de cintura para que os clientes e prazos possam ser atendidos. Por outro lado, sobra autonomia e poder de decisão.
Adolescência: a empresa começa a se profissionalizar. Departamentos, cargos e funções são criados. A figura do empreendedor começa a se dissipar na nova estrutura organizacional. É uma época propícia para se criar procedimentos, processos e normas, as quais serão implantadas na empresa em crescimento.
Plenitude: é a fase em que toda empresa quer chegar. Com fundamentos sólidos e princípios éticos, desenha o futuro a partir do presente. Com cargos e departamentos definidos, oferece segurança e bons benefícios. Há espaço para praticamente todos os tipos de profissionais, apesar da limitação da autonomia em alguns casos.
Aristocracia: a empresa e seus funcionários adotam uma postura arrogante frente ao mercado e aos clientes, resultado de um passado de glórias. Os procedimentos e padrões se espalham pela empresa, assim como os feudos para defendê-los. Demissões injustificadas são frequentes nesta fase.
Fossilização: é o próximo passo da empresa aristocrática, caso nada seja feito na etapa anterior. Torna-se engessada e lenta, buscando o sucesso do passado através de fusões e aquisições. Não raro, seus produtos e serviços tornam-se obsoletos. Pode ser uma grande oportunidade aos que possuem perfil empreendedor.
Importante mencionar que o mercado no qual a empresa se insere terá grande influência sobre o ciclo de vida e a duração de suas etapas, uma vez que há ambientes super ágeis e competitivos, enquanto outros são mais lentos e tradicionais. De qualquer maneira, eleger um local que se adéque ao seu perfil fará toda a diferença, não apenas no seu desempenho profissional, mas também em sua qualidade de vida. Pense nisso antes de aceitar uma nova proposta de emprego. Afinal, ninguém quer tornar sua equação ainda mais perversa.
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas e professor da Universidade Mackenzie. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.
Contato: professor@marcosmorita.com.br / www.marcosmorita.com.br
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